Thursday, August 17, 2006

Metamorphosis




Rendemo-nos ao facto de que a vida é um processo. Não é um chegar a algum lugar, porque na realidade nunca chegamos. E já agora, rendemo-nos à realidade de que não podemos controlar o nosso futuro. Em contrapartida, podemos sim, preparar-nos para ele.



Não acredito que se encontre a felicidade plena ao lado de outra pessoa. Coisas como Alma gémea, a pessoa certa e o verdadeiro amor, são contos de fadas que não me seduzem. Se estas verdades algumas vez existiram, nos dias de hoje, as coisas acontecem, apenas, a alguns iluminados.
Existem pessoas que deixam de fumar porque tiveram um ataque de coração, outras deixam de conduzir a 160kms hora porque tiveram um acidente de carro, outras deixam de se envolver emocionalmente porque tiveram um choque.

Quer se fale de catarse, purgar, metamorfose, renascimento, no fundo vai dar tudo ao sentido práctico da nossa realidade, de que a vida continua e este foi e é um processo de crescimento. E tudo acontece em fases, em ciclos, em passos sequenciais … a catarse para a expiação da tristeza, o purgar para a purificação do coração, a metamorfose para a transformação do ser e o renascimento para que possamos … reviver.

Tal como o nevoeiro da manhã, lentamente deixamos ir aqueles pensamentos, aquelas músicas, aqueles lugares, as esperanças e até mesmo as emoções. Detesto redundâncias, mas é inquestionável: dia a dia o ser regenera-se. Dia a dia.

Andrea é sem sombras de dúvidas a minha melhor amiga, bom é como se fosse mais uma irmã, mas sem aquele lado maternal que por vezes as irmãs têm. Conhecemo-nos desde crianças, até aos seus 28 anos sempre viveu em St. Ives, na Cornualha Inglesa – terra da minha mãe – mas depois veio para Portugal para abrir um bar na praia da Adraga, perto de Sintra. Faz tempo que andava a adiar ir ter com a Andrea. Não por causa dela, mas porque em seu redor há sempre muita agitação ou é no bar com os clientes ou em casa com os amigos. Mas esta semana ví que não poderia adiar mais e ainda bem.

Fui ter com a Andrea ao final da noite, quando a animação já tinha esmorecido, quando a maior parte das pessoas já comeu, dançou e bebeu aquilo que queria e amanhã é outro dia de praia! Mas para mim e para a Andrea as coisas ainda nem se quer tinham começado. Passava pouco das duas da manhã, depois do último cliente, da última cadeira por arrumar, deixamos apenas o essencial do bar e esplanada aberta, eu escolhi a música e preparei as bebidas, a Andrea fez algo para comer e começou a nossa private festa. Passamos a noite a falar, rir, chorar, ouvir o mar, a comer, a ver a noite, a beber, a ouvir músicas novas e velhas, a falar e a tentar seguir em frente.

Já o sol estava a aparecer nas nossas costas quando no fim de um silêncio de apreciação, Andrea diz-me no seu Português inglesado:

- Allright, matey, crescer dói, mas tu cresceste.
- O que queres dizer que cresci. Vou aprender, vou crescer com isto, mas ainda não cresci.
- yeah you did. Tas diferente. Mais calma, mais ponderada.
- Andrea, miga, tou magoada é claro que estou mais calma. Estou sofrida. Entro nos lugares que tenho que entrar de óculos de sol porque não quero que me olhem nos olhos, ando no carro de janelas fechadas porque não me apetece deixar entrar o mundo exterior e andei duas semanas sem vir cá porque não me apetece estar em lugares muito movimentados. Aí tens. Claro que estou mais introvertida e receosa. Bolas, alguma vez quero passar por isto de novo?
- Não vais passar por isto de novo e tu sabes. Ao longo desta noite achei-te uma pessoa mais clara, mais confiante in what you are and you aren´t. Give yourself a break, às vezes exiges demasiado de ti. Vais te sair bem.


A melancolia de vez em quando ainda é presente, mas devo de estar na fase da metamorfose porque depois da conversa com a Andrea, reparo que existem aspectos do meu ser a transformarem-se. Provavelmente a minha aversão ao mundo exterior está directamente relacionado com o efeito casulo que qualquer metamorfose sugere. Porque é real há coisas a mudarem. Sentimentos, crenças, formas de agir e eu sinto-as.
Algumas coisas mudaram como se tivessem sido tiradas a ferros e tivemos que as substituir com outras razões, lógicas e emoções. Depois há aquelas mudanças que acontecem de uma forma lenta e profunda, que se movem no campo do que está e sempre esteve enraizado em nós e são essas que nos transformam o ser.



Imagem de Helena Vasconcelos
Obrigada

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Para sair de certas situações, há quem fale, ha quem se esconda no seu "casulo", e ainda há quem se entregue ao desespero e se encaixe no papel perfeito de vitima... Eu hoje tinha qualquer uma dessas opções e optei por visitar este blog... OBRIGADA pela força e por ajudares na minha mudança positiva... A vida segue em frente e o tempo não nos dá tréguas!

9:10 PM  

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