Monday, August 14, 2006

Surrender

Ainda são frequentes aqueles momentos em que sinto um soco no estômago.
Luto comigo mesma, contra emoções, contra retroceder em todo este processo, contra a revolta que me consome. No entanto, por vezes, é inevitável.
Claro que há romantismo no sofrimento. Prolongamos através da nossa dor um contacto, um outro tipo de relação. Ultrapassar essa dor é também libertar a pessoa.
Entende-se agora porque luto, porque combato a tristeza e as coisas que me prendem emocionalmente a algo, sem futuro, e onde o presente só existe por causa da dor que ainda sinto. Mas quando essa terminar, encerrar-se-á um fascículo na minha vida.

Não gosto de fazer elogias à tristeza. Até porque hoje sei que até a tristeza é passageira. Nenhum abismo é sempre negro. Mas por vezes, existem as tais coisas que agitam o nosso lado frágil e temporariamente perde-se novamente o controle. A voz volta a fraquejar, de novo o isolamento e o vazio.

Não interessa quanto tempo passou.
Está tudo ainda tão vivido e ao mesmo tempo tão distante. Os espaços, as noites, os dias, as palavras, os detalhes, as músicas, as conversas … e a amizade de que sinto falta.
Depois vêm as perguntas – novamente – para as quais, algumas, já temos respostas e para outras já não interessam as respostas. Depois vêm o soluçar, o vazio, a revolta e por fim a resignação.

Perdi-a, perdeu-se, perdi-me, perdemo-nos, não interessa. Acabou. Não há volta e não há razão que explique como perdi a única pessoa com quem eu verdadeiramente acreditava ser possível. È óbvio – agora – que não viria a ser possível e tudo passa a ilusão. Mas como?

O que dói e porque dói é o que mais questiono nestas alturas. Encontrar a fonte para a secar. Dói o quê concretamente, esta deprimente angustia perante o que foi que correu mal? Porquê? Por causa das dúvidas, dos “E se” que me picam de vez em quando ou por causa da falta de coragem para esquecer o que ainda está tão vivo na minha pele no meu sangue no meu adormecer em tudo o que me rodeia.
Tola. Abri todo o meu espaço e ficaram memórias demais. Revolta-me a minha atitude. Mas não o suficiente para deixar de estar apaixonada.

Problema é justamente esse.
Ainda estou apaixonada.

2 Comments:

Blogger Duca said...

Pois estás. E ainda vais estar, amiga, durante mais um tempo! Mas não te iludas, porque da próxima vez vais abrir todo o teu espaço, na mesma! Não cometemos aquilo que consideramos erros (até nem são!) por estupidez, mas apenas por ilusão e esperança de que seja "desta".
A dor que sentes e tão bem retratas neste blogue, compreendo-a demasiado bem. Já me doeu de forma indescritível e muito prolongada e, no entanto, cá estou vivinha da silva, feliz, mais madura e sábia e, porque não, pronta para outra? I'll see!
Gosto imenso do teu blogue.
Beijo
D.

6:29 PM  
Blogger Helena said...

Obrigada Duca...
E sim, crescer dói e o mais certo é voltarmos a fazer as mesmas coisas. Algumas pelo menos.

Bjinho
Druiel

11:15 PM  

Post a Comment

<< Home