Sunday, August 06, 2006

Prologue

Há momentos significativos na vida de uma pessoa.
Os bons, os maus, os mais ou menos e os assim assim. Momentos para todos os gostos, dos quais saímos ou não ilesos, crescemos ou não, mudamos ou não.
O prazer e a dor estão intrinsecamente ligados a estes momentos. Consciente ou inconsciente procuramos repetir os momentos de prazer, consciente ou inconscientemente tentamos não repetir os que provocam dor.

Mas as memórias da dor afundam-se fundo, moldam-se e com elas a nossa percepção sobre o momento – para atenuar a dor – molda-se a memória para o que nos convêm.
Na maior parte das vezes até conseguimos ultrapassar essa dor. Recusamos deixar que a dor nos transforme em algo insípido e lutamos por não entrar num desespero, numa espiral de culpas e razões.

A minha vida é feita de equações. Mais do que matemáticas e sem resultados práticos.
Equações assentes naquilo que acredito, no que penso acreditar, no que penso saber sobre mim, no que realmente sei – o que sou e o que quero.
As equações nunca são estáticas, novos sentimentos, novas percepções e novos conhecimentos, alteram as partes de uma ou mais equação.
Dizem que evoluímos com esta mutação de equações. A evolução é um processo doloroso e emocional, porque só as emoções dolorosas têm força suficiente para alterar as equações. Há momentos em que muitas dessas equações são alteradas e tudo o que julgávamos saber, tudo o que pensávamos ser correcto, ser adquirido… tudo muda.

Mas não nos precipitemos.
Tudo fica mais difícil de analisar quando a dor ainda está presente.

O passado é passado. Ponto final paragrafo.
Não adianta procurar lógica para o que não tem explicação. Há coisas que se podem explicar e outras não. São estas últimas que abalam as nossas equações. Por vezes trata-se de um caso isolado, outras, são equações sucessivas. E toda a nossa vida fica desfigurada. Já não existe ordem, já não existe controlo e raios se existe futuro?!

Que futuro se avizinha quando aquilo que sustenta as nossas crenças, os nossos ideais, os nossos comportamentos e sonhos é fortemente abalado pela dúvida?

Creio que foram 3 as vezes em que realmente sofri por amor. Houve outros relacionamentos, pseudo relações que chegaram ao fim. Nem interessa se fui eu que terminei ou não.

Eu sou complicada. Vão poder comprovar isso. Nem vão precisar de muito tempo.

Da primeira vez que sofri por amor eu consegui sair do desespero e da dor, diria, a rastejar. Não sei bem quanto tempo depois, mas consegui recompor-me. Concentrei-me no meu trabalho e segui em frente.
Da segunda vez, a dor foi tanta que durante 3 dias não conseguia respirar como deve de ser. Acordava de manhã, sobressaltada para uma tristeza que nos esmurra o estômago, que nos preenche com raiva, revolta, dúvidas e um sem número de porquês e lógicas sem lógica. Mas lá fazemos o que temos a fazer e dia a dia consegui sair do desespero. Concentrei-me nos meus estudos fotográficos e segui em frente.
E a terceira vez?
Right…

Existem duas coisas que é seguro afirmar:
Não podemos passar pela vida sem que as coisas nos afectem.
O grau de dor é proporcional ao grau de entrega.

Recentemente, uma das minhas séries preferidas – A anatomia de Grey – falava de como num estado clínico de absoluto choque o coração deixava de bater e instintivamente o ser humano faz uma destas duas coisas: ou foge ou luta e que fique compreendido que se fugimos morremos e se lutamos vivemos. Não se sabe bem como depois disso, mas vivemos.

Lutar não é, necessariamente, andar por aí com espadas e malabarismos de diversão.
Lutar às vezes também é o recusar-me a integrar o grupo dos desiludidos, não me deixar ir, não me entregar ao desespero. Chorar certo, enquanto for tempo de chorar. Mas seguir em frente.

E mais uma vez segui em frente. Dia a dia.
Sem ressentimentos, aceitar os meus erros e perdoar os erros dela.

Em nós há duas verdades.
Aquilo que julgamos ser e aquilo que os outros julgam que nós somos.
Claro que me importo sobre o que julgam de mim. Sou uma fotógrafa profissional, trabalho como freelancer no mundo da música internacional e tenho uma ambição artística! - Mas não falo nesse julgar –

Há coisas que são mesmo minhas. Que não posso alterar, das quais não consigo fugir, as quais não posso alterar. Porque sou eu.
Depois há aqueles aspectos da nossa personalidade que se vão moldando conforme aquilo em que acreditamos, conforme as respostas das equações que vamos construindo.
Equações…

Foi isso que aconteceu da terceira vez que sofri por amor, muitas das minhas equações transformaram-se. Mais do que física, esta dor abalou toda a minha infra-estrutura.
Não era só uma questão de me levantar e seguir. Eu levanto-me, sim, mas … para quê exactamente? Ou para o quê, concretamente?

Luto, levanto-me e sigo. Sim. Eu percebo.
Mas sigo para onde e porquê?

Sigo para uma vida empenhada no meu trabalho, nas minhas irmãs, nos meus sobrinhos, arranjar um projecto qualquer e dedicar-me de corpo e alma, até que esse mesmo projecto me preencha ao ponto de consumir toda a minha atenção.

No passado ficam os bons momentos e esquecemos palavras, actos, frases inteiras que se esvoaçaram num momento de fim, sem luta.
Ter a tranquilidade para compreender e ver as coisas de forma diferente. Perceber e perdoar. Right … again … Perceber eu ainda percebo. Há muitas coisas que são agora bem mais claras, ou diria, bem mais escuras e é nesta semi escuridão que consigo sentir o que me diziam, o que queriam que eu entendesse. Pois eu percebo agora.

Perdoar?
- Tricky bit ahead –

4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

a propósito, deixo aqui um fundo sonoro: ISLANDS ON THE STREAM

Baby, when I met you there was peace unknown
I set out to get you with a fine tooth comb
I was soft inside, there was somethin going on
You do something to me that I cant explain
Hold me closer and I feel no pain
Every beat of my heart
We got somethin goin on
Tender love is blind
It requires a dedication
All this love we feel
Needs no conversation
We ride it together, ah-ah
Makin love with each other, ah-ah

Islands in the stream
That is what we are
No one in-between
How can we be wrong
Sail away with me to another world
And we rely on each other, ah-ah
From one lover to another, ah-ah

I cant live without you if the love was gone
Everything is nothin if you got no one
And you did walk in tonight
Slowly loosen sight of the real thing

But that wont happen to us and we got no doubt
Too deep in love and we got no way out
And the message is clear
This could be the year for the real thing

No more will you cry
Baby, I will hurt you never
We start and end as one, in love forever
We can ride it together, ah-ah
Makin love with each other, ah-ah

Sail away
Oh, come sail away with me

9:10 AM  
Anonymous Anonymous said...

Bravo! Bela supresa, eu não teria escolhido melhor.

10:48 AM  
Blogger Helena said...

Por acaso, Tangas, não é que eu seja fan da senhora, mas essa música fez-me lembrar uma que ela cantou na entrega dos oscares deste ano: Travelling Through da banda sonora do filme Transamerica.

Excelent purge song ...
Thank you

1:51 AM  
Anonymous Anonymous said...

havia outra que ela cantava nos anos 70/80, que era uma coisa de dor de cortovelo de arranhar o céu de tristeza, mas já não me lembro do título...

8:31 PM  

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